EX ANCIÃO "PERDE" MAIS DE 30
ANOS PRA TORRE DE VIGIA.
A situação era triste e constrangedora quando
foi dado o anúncio na congregação: “O irmão João [o nome foi mudado] não serve
mais como ancião". Dava pra ver a surpresa e perplexidade no rosto dos
irmãos na congregação. Comigo não foi diferente, fiquei meio no ar, atônito,
mas o que mais me deixou de boca aberta foi o que levou esse irmão a perder o
seu privilégio. Continue lendo para ver quanta sujeira pode ter em um corpo de
anciãos das testemunhas de Jeová.
HISTÓRICO DE JOÃO COMO TESTEMUNHA DE
JEOVÁ.
João aprendeu a verdade ainda na adolescência, aos 15 anos, no
inicio da década de 70, logo se apegou a sua recém encontrada fé. Como
resultado abandonou o futebol que tanto gostava para se dedicar mais como
testemunha de Jeová. Batizou-se em pouco tempo e fez rápido progresso. Chegando
aos 20 anos foi designado Servo Ministerial, passado dois anos foi designado
Ancião de congregação, devido a necessidade, visto só ter uma congregação na
cidade, e a maioria dos irmãos eram novos na “verdade”, numa época que as
informações sobre as testemunhas de Jeová eram poucas e as pessoas ficavam mais
suscetíveis a sua pregação.
SERVINDO
COMO ANCIÃO.
Conheci e tive contato com inúmeros anciãos durante meus 10 anos
como testemunha de Jeová, trabalhei com mais de 20 durante o tempo que servi
como Servo Ministerial, mas nenhum deles me chamava mais atenção do que o irmão
João. Sua espiritualidade pra mim sempre foi um exemplo a ser seguido. Não só pra
mim, mas pra muitos irmãos que o conheciam e o procuravam como referência pra
conselhos sobre a bíblia e vida cristã.
Mas vamos ao resumo de sua vida como ancião:
João tinha muitas qualidades como ancião, tinha uma excelente
oratória, não raro sempre tinha partes nos congressos e assembléias. Serviu
como Superintendente de circuito substituto pelo menos uma vez durante uma
semana a pedido do superintendente de distrito. O que é raro por aqui no sul do
Brasil, nunca fiquei sabendo de outro Ancião que serviu assim sem ter a
designação de Sup. De circuito ou de pelo menos ter recebido o treinamento.
Era também bem organizado, serviu como presidente de congresso e
assembléia, organizando seus muitos departamentos. Depois sempre ficava ao seu
cuidado um departamento, trabalhei muitas vezes com ele nas contas de
congressos e assembléias, às vezes o via dando entrevista quando a TV local
filmava o congresso.
Na congregação, serviu como secretario e como superintendente
presidente, que depois passou a ser chamado de coordenador do corpo de anciãos,
era dirigente do estudo da revista a Sentinela, sendo bom dirigente. Na escola
do ministério do Reino para servos ministeriais, ele tava entre os anciãos top
de linha que tiveram parte nela, apenas 4 anciãos do circuito foram usados, sem
contar o sup. de circuito e outro pioneiro especial em treinamento que fizeram
as partes.
VIDA
PESSOAL E “DESQUALIFICAÇÃO”.
Não quero me alongar muito nessa postagem, mas para que você possa
entender e opinar se é justa ou não sua remoção como ancião, vou contar os
pontos mais relevantes.
João casou-se e teve um filho. Como todo ancião e testemunha de
Jeová, o ensinou a andar “nos caminhos de Jeová”. Mas como Jeová nos dotou com
o livre-arbítrio, assim que atingiu a maioridade, seu filho decidiu não fazer
mais parte da congregação. Acabou se afastando.
Ate ai, fazer o que né! Não vai levar o filho amarrado pro salão
do reino se ele não quer nem saber da sua religião. O tempo passa e o irmão
João sempre trabalhando, mas pouco investe em si mesmo. até que a situação muda...
1º- Saúde
familiar: Tanto João como sua esposa começam a ter problemas de saúde, ele não consegue
dormir a noite de tanta dor nas pernas, sua esposa tem que fazer diálise três
vezes por semana, ai são vários gastos em remédios e consultas medicas. Mais
plano de saúde, transporte etc...
2º- Revés
financeiro: João tinha um negocio para ficar mais livre pras coisas
espirituais, mas seu empreendimento começou a render pouco, foi cada vez mais
baixando as vendas, e como ele não investiu em si mesmo e na sua família, acaba
perdendo o único bem que conseguiu ter durante anos de casado: seu carro.
Vendido para saldar as contas do seu investimento.
Não tinha dinheiro para aluguel, comida e remédios, e seu
senhorio, que era irmão também, vinha todos os dias com aquela frase clássica
do seu barriga do seriado Chaves: “Quando é que vai me pagar o aluguel”? Se não
fosse seu irmão carnal lhe ajudar não sei o que teria sido do irmão João.
Mas mesmo com todas as dificuldades que o cercavam, João prezava
muito seu privilegio. Sempre dirigindo o estudo da Sentinela e fazendo suas
atribuições na congregação. Mas de uma hora para a outra ele começa a sentir um
pouco a diferença que recebe dos outros anciãos do corpo. Começam a ficar com
inveja dele, pois ele é o único que recebe partes nos congressos e assembléias,
e realmente nem lembro quando alguns dos quatro outros anciãos tinham feito
alguma parte nesses eventos.
É ai que começa a conspiração.........
Passam a reclamar dele até mesmo pra outros irmãos, até que acham
um pretexto para remover ele do cargo de ancião: o filho afastado!
Sim, tenho consciência sim que um dos requisitos para servir como
ancião é ter a família em sujeição, conforme 1 Timóteo 3:4,5 que diz: 4 homem que
presida de maneira excelente à sua própria família, tendo os filhos em sujeição
com toda a seriedade; 5 (deveras, se um homem não souber
presidir à sua própria família, como tomará conta da congregação de Deus?
Embora fosse essa a alegação que os anciãos fizeram
do Irmão João, junto com o Sup. De circuito, o que achei curioso é o fato de
que FAZ
15 ANOS QUE O FILHO SE AFASTOU.
Porque os anciãos não pensaram na remoção dele na
época que seu filho se afastou?
Já fazia anos que seu filho estava afastado, usando
cigarro e curtindo baladas, e só agora teria que ter alguma ação disciplinar?
Posso afirmar aqui com todas as letras que tem
muitos anciãos recalcados e invejosos, tenho visto a hipocrisia desses homens
muitas vezes, tem um, por exemplo, que é perseguidor dos irmãos, procurando
defeitinhos, carrancudo, mas precisa ver quando é a visita do Sup. De Circuito.
Vira um amor de pessoa, todo sorridente. Isso é visto não só nos outros anciãos
em geral, mas também na congregação como um todo. Até os mortos ressuscitam e
saem no campo. Todo mundo fica zeloso e amoroso. Posso escrever de consciência
limpa que nunca tratei a homens com parcialidade.
Como se sentiu o irmão João?
SENTIMENTO
DE TEMPO PERDIDO
Esses dias fui ao seu trabalho prestar um serviço,
como estava só eu e ele no escritório, perguntei a ele:
-E ai irmão João, como tem passado?
Ele desabafa:
- É irmão Pedro, não têm sido fáceis esses dias. Alem
das lutas com as doenças, tem essa outra provação que to passando. Dediquei toda
a minha juventude e quase a minha vida como ancião. Deixei boas oportunidades
de emprego para servir a congregação. Nunca cursei uma faculdade ou me apliquei
aos estudos para ter um emprego melhor, tudo para servir a organização. Hoje não
tenho minha própria casa, se não fosse meu irmão me dar a casa que ele tinha,
talvez hoje estivesse na rua. Se eu tivesse pensado um pouquinho mais em mim também,
talvez hoje eu não lamentasse ter perdido tanto tempo no passado...
Confesso que me deu um nó na garganta ao ouvir o
desabafo dessa desilusão. Embora o que se possa dizer de consolo para uma
pessoa numa situação dessas, é impossível voltar no tempo para consertar as
coisas deixadas atrás. O interessante é que de tudo podemos tirar uma lição:
Antes tarde do que nunca.
Custou uma vida e muito sofrimento para esse irmão
ter os olhos abertos quanto à organização torre de vigia. No meu caso consegui
abrir os olhos depois de 10 anos amarrado a ela. Na idade de 30 anos. Irmão João,
com o dobro da minha idade. Mas nunca é tarde para recomeçar, embora, tenha que
se admitir, possamos sair com algumas feridas e seqüelas.
Acho interessante também que a sociedade, no caso de
uma remoção de privilegio, seja ancião ou servo ministerial, ela não se da nem
ao trabalho de investigar se as “acusações” ou motivos são realmente
verdadeiros. Ate no mundo a gente vê mais ordem para se remover um cargo, como
o que acontece numa CPI por exemplo. Mas a sociedade assina embaixo do que os
anciãos mandam pra ela e vice e versa. Nenhum dos dois tem um espírito investigativo
para determinar as coisas, sendo os dois pontos falhos suscetíveis a erros.
Agradeço a você por ler esta postagem. Comente por
favor. Se quiser compartilhar uma experiência que achou interessante, fique a
vontade.
Até a próxima.